Paulo do Valle Júnior
Cadeira 24
Paulo do Valle Júnior nasceu na cidade de Pirassununga (SP), no dia 24 de julho de 1889. Era pintor e desenhista. Ingressou no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo – Laosp, em 1902, onde estudou com Oscar Pereira da Silva (1867 - 1939) e permaneceu até 1906.
Em 1906 viajou para Paris, com bolsa de estudo concedida pelo governo do Estado de São Paulo, frequentou a Académie Julian e foi aluno dos pintores Marcel André Baschet (1862 - 1941), Jean-Paul Laurens (1838 - 1921) e Henri Paul Royer (1869 - 1938).
O Estado de São Paulo lhe concedeu mais uma bolsa de estudo, em 1913, e Valle Júnior foi para a Europa, e lá ficou até 1915. Em 1920, fez uma exposição individual no Clube Comercial, com boa recepção da crítica. Teve uma relevante participação no processo de profissionalização dos artistas em São Paulo, na criação da Sociedade Paulista de Belas Artes, em 1924, no debate sobre a criação do Departamento Histórico e Artístico do Estado de São Paulo e na fundação do Sindicato dos Pintores de São Paulo, primeiro do gênero no Brasil.
Integrou a mostra do Grupo Almeida Júnior, organizada por Torquato Bassi (1880 - 1967), em 1928. Entre 1937 e 1954, ocupou a presidência do Salão Paulista de Belas Artes e participou da comissão organizadora e do júri de seleção de várias edições do evento. Entre 1948 e 1952, passou nova temporada na Académie Julian, com apoio de Irene e Freddy Keller, seus parentes, que receberam parte da sua produção do período pelo custeio da viagem.
Valle Júnior influenciou a produção de artistas como Nicola Petti (1904 - 1984) e José Marques Campão (1892 - 1949). Apresentou uma retrospectiva na Galeria Prestes Maia, em São Paulo, em 1956.O impacto da formação no Liceu de Artes e Ofícios sobre os artistas da virada do século XIX ainda é um assunto pouco estudado, mas sabe-se que alguns dos que obtêm reconhecimento no ambiente artístico paulistano na época provêm de seus bancos de estudo.
No Laosp, como aluno de Oscar Pereira da Silva (1867 - 1939), Valle Júnior deu os primeiros passos num campo artístico em transformação. De contornos acadêmicos, esse percurso passou por uma temporada de estudos no exterior, trazendo sucesso e certo grau de reconhecimento das instâncias acadêmicas estrangeiras, como atesta a menção feita ao seu trabalho pela revista da Académie Julian em 1909, e a posterior aclamação quando, de volta ao Brasil, em 1911, onde conseguiu uma segunda bolsa de estudo.
Essa formação acadêmica, longe de ser uma tradição rigidamente imutável e tradicional, vem assimilando elementos de inovação artística desde meados do século XIX. No caso francês, por exemplo, com a incorporação da luminosidade específica da Escola de Barbizon ou, posteriormente, com alguns elementos da paleta clareada dos impressionistas. Tais características notadas na obra de Pereira da Silva foram também incorporadas por Valle Júnior.
A herança do ensino de Pereira da Silva faz-se notar na ausência de um modelado tradicional, pois Valle Júnior não desenhou contornos nem se utilizou do preto para fazer o sombreamento dos objetos. Ele fez uso frequente de empastamentos nas zonas mais iluminadas da tela, trabalhando as cores claras com espátula a fim de conseguir um efeito de volume, que produz mais densidade luminosa. Esse recurso, que Pedro Alexandrino (1856-1942) utilizou sobretudo na representação dos metais em suas naturezas-mortas, Valle Júnior usou em retratos, como o Retrato de Noemia Valle, 1924, ou em paisagens como O Sobrado Colonial, 1926, ambos pertencentes à Pinacoteca do Estado de São Paulo - PESP.
Paulo do Valle Júnior faleceu no dia 19 de maio de 1958, com 69 anos de idade, em São Paulo, onde estava residindo, deixando uma vasta obra de reconhecido valor universal.
