Cacilda Becker
Cadeira 28
No dia 6 de Abril de 1921, às nove horas e vinte e cinco minutos, nasceu em Pirassununga, à rua Mário Tavares, n.º 44, (atual rua Siqueira Campos) uma criança com um destino na vida. Seu nome: Cacilda Becker.
Sua infância foi das mais instáveis possíveis. Desde cedo conheceria a pobreza que não deveria abandoná-la durante anos. Seu pai nunca se fixava num lugar ou num modo de vida. Ora era dono de armazém de secos e molhados, ora era caixeiro viajante. Quando menina, Cacilda viveu em inúmeros pontos do interior paulista, ora em cidades, ora em fazendas. Quando tinha sete anos, os pais se separam. Ela, a mãe (dona Alzira Leonor Becker) e suas irmãs (Cleyde Becker Yáconis e Dirce Becker Yáconis) voltariam a Pirassununga, onde viveriam com seus avós maternos, de origem alemã. Foi graças a eles que Cacilda teve a oportunidade de se iniciar na arte da dança. Ainda menina se iniciou no aprendizado do bailado com a professora Lídia Del Nero, em Pirassununga.
Um programa do Teatro Politheama (de Pirassununga) anunciava para uma sexta-feira, dia 12 de setembro de 1930, uma reprise do Festival da Escola de Instrução Militar, em homenagem ao 2º RCD (depois 17º RC, 2º RCC e atualmente 13° RCMec). O número de Cacilda, então com nove anos de idade, era “A Morte da Borboleta”, um bailado com coreografia de sua própria autoria. Esta foi a sua primeira apresentação.
Cacilda e suas irmãs ficaram com a mãe quando os pais (Edmundo Radamés Yáconis e Alzira Leonor Becker) se separaram e juntas mudaram-se para Santos, onde Cacilda conseguiu fazer seus estudos de Balé, sua primeira vocação artística. Residindo em Santos, a dança garantiu seus estudos, pagos através de lições que ministrava e também de recitais. A imprensa de Santos era unânime em pôr em relevo seus dotes artísticos.
Antes do teatro, um diploma de professora e, em São Paulo, o emprego de escriturária numa firma de seguros. Em Santos, conhece Miroel Silveira, em cuja casa se reuniam artistas e intelectuais da época. Ali se convenceu que deveria abdicar da dança para dedicar-se ao teatro, porque na dança não teria qualquer futuro, pela inexistência de lastro cultural. Até sua estreia no TEB, porém, nunca havia lido nada sobre teatro ou tivera qualquer experiência de representar. Assim, limitava-se a aparecer no palco e dizer o que lhe mandavam.
Com vinte anos, em 1941, no dia 12 de Abril, no Teatro do Estudante do Brasil (Rio de Janeiro), Cacilda Becker fez sua estreia como atriz teatral amadora com a comédia de Julien Luchaire “3.200 metros de Altitude”, sob a direção de Maria Jacinta. Estreou como profissional em 1941. De 44 a 46 redigiu e apresentou programas radiofônicos infantis em São Paulo, dramatizando trechos da história do Brasil. Ausentou-se de São Paulo por dois anos e, ao regressar em 1948, foi convidada para lecionar Arte Dramática na Escola de Arte Dramática de São Paulo. Integrou o TBC – Teatro Brasileiro de Comédia. Fundou sua própria companhia teatral juntamente com Ziembinski, Walmor Chagas e Cleyde Yáconis. Depois fez cinema (“Luz dos meus olhos”, ao lado de Grande Otelo e Sílvio Caldas, lançado em Outubro de 1946: e “Floradas na Serra”, ao lado de Jardel Filho, lançado em Outubro de 1954) e Telenovela (Ciúmes). Nos palcos, vieram os triunfos sucessivos com os 64 personagens por ela vividos, em 28 anos de carreira artística.
Em 1968, Cacilda suspendeu suas atividades para presidir o CET – Conselho Estadual de Teatro. Na época os artistas eram perseguidos pelo AI-5 (censura) e Cacilda teve uma desenvoltura brilhante frente aos problemas surgidos com os atores e atrizes. Voltou para os palcos em 1969 para representar o vagabundo Estragon, da peça de Samuel Beckett “Esperando Godot”.
Na tarde do dia 6 de Maio de 1969, no intervalo de uma apresentação do texto “Esperando Godot”, Cacilda foi vítima de um aneurisma cerebral. Após trinta e oito dias em coma, veio a falecer na manhã de um sábado, às 10h40m do dia 14 de Junho de 1969, aos 48 anos de idade.
